Como “minoria que representam”, os homossexuais “devem permanecer sentados na última fila do Parlamento e mesmo fora dele, por detrás dum muro”. Com esta frase, e outras em tom idêntico, o líder histórico do Solidariedade, na Polónia, Lech Walesa chocou os sectores mais liberais da Polónia e não só. Segundo a AP, que ouviu comentadores, as declarações da passada sexta-feira à noite, numa entrevista na televisão, provocaram de tal maneira o espanto e o desconforto que põem em causa a imagem e o próprio legado do ícone anticomunista.
“Eles [os homossexuais] têm de saber que são uma minoria e que têm de se adaptar às coisas mais pequenas”, disse Lech Walesa. Numa entrevista na televisão TVN, e em resposta ao jornalista que, directamente, lhe perguntou se os deputados homossexuais deviam sentar-se perto do muro, na última fila das bancadas parlamentares, uma vez que representavam uma minoria, Walesa, respondeu que sim: “Perto do muro e mesmo fora dele.”
“Nós respeitamos a maioria, nós respeitamos a democracia. É a maioria que constrói a democracia e ela pertence à maioria. E tudo o que nós temos, é uma minoria a andar sobre a cabeça de uma maioria”, acrescentou para logo continuar: “Não quero que essa minoria, com a qual não estou de acordo – mas tolero e compreendo – se manifeste nas ruas e dê a volta à cabeça dos meus filhos e dos meus netos”.
Conhecido pelo seu fervor católico, Walesa acrescentou : "Eu sou da velha escola e não tenciono mudar. Compreendo que haja pessoas diferentes, com orientações diferentes e que têm direito à sua identidade. Mas que não mudem a ordem que está estabelecida há séculos.”
Propostas para união entre homossexuais rejeitadas
Um militante homossexual é membro do Parlamento bem como uma deputada transsexual. O país é profundamente católico e a homossexualidade foi durante muito tempo uma questão tabu, mas os direitos dos homossexuais começam a ser discutidos na sociedade. A câmara baixa do Parlamento rejeitou recentemente três propostas de lei para permitir a união civil para casais homossexuais e heterossexuais.
Respeitado dentro e fora da Polónia, Walesa representa no seu país a vitória da democracia sobre o comunismo. Liderou o movimento grevista de Gdansk e fundou o Solidariedade, primeiro sindicato livre num país do Pacto de Varsóvia. Esteve preso, foi Prémio Nobel da Paz em 1983 e chegou a Presidente da Polónia em 1990 logo a seguir à queda do muro de Berlim.
Tem 70 anos e está afastado da vida política activa. A sua vida reparte-se entre as palestras a convite no estrangeiro, as entrevistas na Polónia sobre assuntos da actualidade e a atenção dada a uma extensa família de oito filhos e vários netos. Pode o seu legado do ex-líder e Prémio Nobel sofrer irremediavelmente com estas declarações? A AP ouviu comentadores e não exclui a hipótese.
“Sabendo o que ele disse, ninguém poderá, em boa consciência, convidar Walesa como autoridade moral”, considerou Monika Olejnik, uma referência do jornalismo televisivo na Polónia. Com estas palavras, concluiu, “Walesa desonrou o Prémio Nobel”.
Ryszard Nowak, um ex-conservador no Parlamento interpôs uma queixa contra Walesa que acusa de promover o ódio contra minorias sexuais. E Janusz Palikot, líder do movimento pró-gay Palikot, afirmou, citado pela Reuters: “Walesa, até agora, era conhecido por derrubar muros, não construi-los. As suas palavras contradizem a [ideia de] democracia porque essa forma de governo é baseada na protecção das minorias.”
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